domingo, 1 de maio de 2011

Don Miguel


Passos leves, precisos e silenciosos
Como de um gato preparado para o bote
O olhar brilhante, lustrado e bem aparado
O sorriso perfeitamente desenhado
O alvo preparado, treinado para não titubear
A cabeça empinada, para que melhor pudesse enxergar
E a pose de imperador, com um sorriso sarcástico de brinde
Por onde passa, o rastro de seu perfume se prolifera
“Te peguei pelos dedos para dançar
Enquanto a aurora não chega”
Deitou-a em seus braços, dilatou a pupila
Olhando em seus olhos
“Mas um coração para a minha coleção”
Deixou o corpo inutilizado para trás
Desceu as escadas, como um torpedo, deslizando
Pelos cantos do palácio de arquitetura antiquada
Em cada um deles tem uma história e um alguém
E um coração que ele roubou intencionalmente
Abriu a porta, deu-se com alguém que pela primeira vez
Encarou-o nos olhos, sem tremulação, ergueu a sobrancelha
Desafiou-o a um duelo de ladrões
E como uma presa encurralada, se rendeu
Colocou o rabo pelas pernas, se curvou a ela
“O que você deseja de mim?”
Que colha tudo o que plantou.
Saiu de lá um reles conquistador apaixonado,
Humilhado, transformado, transfigurado à um lobo moribundo
Devolvendo tudo o que roubou, sentindo falta de algo
Algo que pensava que nunca teve por nunca amar.
O seu coração.

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