domingo, 29 de maio de 2011

Revira, e Voltas


Sábado á noite, onze horas da noite. A lua pontualmente em seu cargo de vigiar tudo e todos; as estrelas iluminando ali e acolá.
O salão era fechado, com o externo preto, o que dava totalmente a impressão de casa de festas; a porta de entrada era de vidro, com uma cortina escura logo atrás; o corredor de entrada era escuro com dois vasos de plantas nas extremidades leste-oeste; dentro do salão era incrivelmente claro e sofisticado, a claridade das paredes, dos vidros e dos pisos não quebravam a sobriedade de toda a parte exterior; era largo e comprido, com várias mesas espalhadas; um buffet com vários tipos de comidas leves porém requintadas; um bar na lateral esquerda com três atendentes e várias bebidas; luzes coloridas que brilhavam por todos os lados quebrando a escuridão das incandescentes apagadas; no fundo, um homem que estava responsável por toda uma aparelhagem de som tocando Johann Christian Bach, por mais incerto que pareça.
Ela estava com um vestido curto e preto de paetês; com um broche de prata com pequenas pedrinhas de diamante na cintura do lado esquerdo que deixava o vestido mais curto desse lado; as costas ficavam nuas, com uma alça fina que ligava o verso com a frente do vestido; estava com uma pulseira de pérolas cinza, que se fechava com um laço de cetim da mesma cor; calçava um salto nove de paetês foscos assim como os do vestido; a maquiagem realçava os lábios, que estavam com batom vermelho, os olhos delineados e os cílios bem volumosos. Assim que chegou, caminhou até a anfitriã para desejar uma boa noite e que a mesma seja próspera.
Quando terminou as bajulações e agradecimentos à amiga, fez uma vistoria pelo salão. Com os olhos altos, parada na ponta do pé com o dedo indicador nos lábios, olhou rapidamente por todo o local para ver se encontrava alguém conhecido. Quando seus olhos passaram pelo lado esquerdo da grande sala, encontraram-se com outros dois que estavam a te fitar.
Ele estava com os braços apoiados na bancada do bar; vestia um blazer aberto acinzentado; calça social da mesma cor; camisa social em tom pastel rosa; sapato dockside preto e sofisticado. Tinha os olhos cerrados, do seu lado um copo com whisky.
Ela respirou fundo e pensou consigo, “Conheço você!”. Ele se endireitou, fez sinal com a mão para que ela fosse até ele; ela apontou para si como se perguntasse se era com ela; ele balançou a cabeça e fez o sinal novamente, ela balançou a cabeça negativamente como resposta. Ele então seguiu até a garota, com passos firmes e determinados, e a cabeça para baixo.
— Boa noite! Colocou os braços para trás, assentiu com a cabeça.
— Boa noite! Ela sorriu em resposta. Olhou nos olhos dele, se recordou daqueles olhos sedutores, maliciosos e sorrateiros de gato; só não sabia onde tinha os visto outra vez.
— Eu queria saber seu nome... Ele disse boquiaberto e meio esquecido, como se também estivesse estudando os olhos castanhos dela.
Camile.
Deu uma pausa, levantou a sobrancelha; o olhar de um fixado ao do outro.
— E o seu?
Edouard...
O silêncio continuou.
— Eu já vi esses teus olhos em algum lugar... Não minto! Não é uma cantada velha, não sou de cantadas ou xavecos. Ele sussurrou.
— Eu admito que também já devo ter te visto!
Ela olhou-o dos pés à cabeça. Era forte, tinha músculos que deixavam o blazer colado ao corpo. Ele fez o mesmo, ela tinha muitas curvas e tão bem definidas... Estavam da mesma altura, por culpa do salto que ela usava.
— Você é daqui?
— Sou natural da cidade vizinha, mas moro aqui faz pouco tempo. Ela respondeu com um sorriso maroto nos lábios vermelhos.
E você?
Nasci aqui e moro aqui desde sempre.
Como é o seu sobrenome?
Sorel. Edouard Sorel.
Conheço alguém com esse sobrenome... Você é parente da Natalie Clementi?
Sou primo da esposa do irmão dela... Serve?
Uau...

Há dez anos atrás eles se conheceram na festa de casamento do irmão de Natalie com a prima dele. Ele tinha 17 anos, ela 15. Conversaram á distância, se olharam de perto e por uma noite inteira.
Ela ainda era meninota, tímida, não tomava atitude de chegar mais perto. Ele, moço já, mas com a timidez não menor que a dela, também não tomava iniciativa de uma conversa face-to-face.
Durante cinco inesquecíveis horas trocaram sinais, uma linguagem entendida apenas por eles e por qualquer amante janota que conversou através de olhares.
Como esquecer daqueles olhos tão castanhos, grandes e desenhados no dia mais inspirado da criação do bom Deus? Como esquecer aqueles olhos tão profundos e verdes, que sintetizou a preciosidade do momento por toda a noite?

— Eu acho que nós podemos nos dar bem. Ele disse, sorriu e pegou na mão dela.
— Eu preciso saber da sua vida...
— Dessa vez eu quero ouvir a sua voz a noite toda...
Seguiram até uma mesa. Sentaram frente a frente.
— Eu te procurei.
Por pouco um “Eu te gosto” não escapou da boca dela. Assentir e sorrir tão brilhante quanto o Sol era a melhor resposta que encontrou.
— Nós vamos nos dar bem.
As mãos se entrelaçaram em cima da mesa; os olhos se fixaram novamente, por toda a noite.
E não é que o acaso, casado com o destino, prega surpresas, mesmo? Sinceramente, eles que cuidem de suas vidas a partir daí. E nós... Nós cuidamos de resgatar o tempo que perdemos. “Eu por você, você por mim, e o amor por nós!”.

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