sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Um Passo da Eternidade

O telefonema pegou-a de surpresa. Atendeu com impaciência, seus olhos presos a um livro de suspense numa noite de ventania. O sábado já estava quase no fim e ela ali, presa aquelas páginas. O som do telefone era uma intromissão, um estorvo. Atendeu a contragosto.
Alô? – não obteve resposta. – Alô? Disse com o tom da voz um pouco alterado.
Oi – uma voz lenta, passiva, com um tom embriagado respondeu.
Quem é? – ela diminuiu o tom da voz, acompanhando o ritmo da outra pessoa.
É o Humbert – ele deu uma pausa – seu Humbert... Seu Humbert que te magoou, que esta a caminho de você... – mais uma pausa.
O silencio se instalou do outro lado da linha. Bettie esperou. Esperou. E nada. Só ouvia a música que a vizinha estava ouvindo, e que coincidentemente também saia da ligação, como se no lugar onde ele estivesse também tocasse a melodia. Cada vez mais ela não o ouvia. Apenas a música e o barulho da recepção do edifício onde Bettie morava.
Humbert! Ela gritou – Aonde está você, meu amor? Me diz aonde você está?!
Olhe... para trás! – ele respondeu balbuciando como se estivesse no leito de morte.
Um estrondo imenso invadiu a sala, rompendo em mil pedaços o silêncio atordoante.
Ela se assustou, e quando olhou para a entrada de seu apartamento, avistou um corpo jogado e uma porta escancarada.
Humbert!
Um grito. Um beijo.
O que aconteceu? – ela perguntou desesperada, ajoelhada perto do corpo.
Promete ficar comigo para sempre? Ele balbuciou. Sua blusa estava repleta de sangue e o rosto suado, bem suado.
Prometo! Eu te amo!
Ele acariciou o rosto dela e repetiu as três ultimas palavras proclamadas pela amada.
Então vem comigo!
Um tiro. Um abraço. Duas almas a caminho da eternidade. Juntas, para sempre.