sábado, 20 de agosto de 2011

Jogo de Azar

Engarrafamento monstro, mais de duas horas com o carro desligado, o rádio era a única salvação.
— Essa vai para os corações partidos! Disse a voz do locutor, do outro lado do rádio.
— E para os idiotas que acreditaram no amor! Disse eu, em voz alta. Desci a mão até debaixo do banco, peguei minha whiskeira (de aço com detalhes de couro), abri e dei um gole profundo.
— Como você veio parar aqui? Perguntei para o objeto, como se ele fosse responder algo mais que “Dê mais um gole, me esvazie, otário”.
Uma mulher no carro ao lado me olhou com estranhamento, acenei para ela levantando a whiskeira. Era a coisa mais valiosa que eu tinha; meu próximo objetivo era comprar a de cristal! Aí sim, poderia morrer feliz.
Morrer feliz por quê?
Amy Winehouse começou a cantar uma melodia triste, dizendo que “O amor é um jogo de azar” e “Como eu queria nunca ter jogado”. Eu também, adoraria não ter entrado nesse jogo.
Conheci uma garota que achei que seria minha esposa de tão perfeita para mim que era. Me apaixonei antes de sequer trocar uma palavra com ela; demorei mais de meses para chama-la para sair; vivemos tão felizes, nos demos tão bem; ela era tudo que eu procurava em uma mulher; e tudo acabou!
Como acaba de dizer a Amy “Mais do que eu poderia aguentar, o amor é uma aposta perdida”.
Eu me entreguei de copo e alma! Isso mesmo, de copo.
Virei para trás e peguei uma garrafa de Absolut. A noite vai ter festa no apartamento de um amigo e eu fiquei encarregado de comprar quem nunca me abandona: a bebida. Abri a garrafa e bebi pelo gargalo mesmo, quem iria ligar? Só a polícia, se eu passasse por um teste do bafômetro.
Mas o que querem que eu faça? O amor da minha vida me deixou; tenho três garrafas de Absolut, uma de Absinto, outra de Tequila, Black Label até dizer “Chega!”, várias caixinhas de água de coco e muito licor; estou em um engarrafamento há duas horas e meia; e no rádio uma diva cantando “O amor é um resignado destino”.
Eu me sinto tão perdido, tão destruído. E parece que a Winehouse me entende perfeitamente e quer dividir as desilusões amorosas dela comigo; ela está me dizendo que “Apesar de estar bastante cega, o amor é um resignado destino”. Dei três goles seguidos, arrepiei a alma.
— Eu estou cego de amor, eu estou cego de amor! Eu gritei dentro do meu carro, com a vodca levantada e a mulher do carro ao lado me olhando.
Olhei para o lado de novo e fiquei encarando ela. Era muito bonita, muito mesmo.
— Você lembra o amor da minha vida! Eu disse devagar para que ela entendesse, dei outro gole e talvez ela tenha pensado que eu estava bêbado.
Só se for de amor.
— Não está ruim essa vodca sem gelo? Ela sentou no banco do passageiro e ficou bem em minha frente. Debruçou na porta e mostrou que não tinha só o rosto bonito.
— Você gosta de vodca?
— Gosto, muito! Ela sorriu. Uau, quase desmaiei.
— Então ela nunca vai ficar ruim. Veja só: minha namorada pediu um tempo, ela é muito complicada, eu não consigo entender ela! – Comecei a chorar. O que eu ia fazer? Eu estava muito triste, tem uma hora que você precisa colocar coisas para fora! – E nem por isso eu deixei de gostar dela ou achei que ela é ruim.
Ela ficou me olhando com uma cara que eu não soube deduzir o que significava, mas não desviava os olhos dos meus. Me olhei no espelho para ver se tinha algo de errado: nada.
— Você é muito bonito! Ela passou a língua nos lábios e meu alarme de perigo soou.
— Obrigado, você também é linda!
A Amy me chamou atenção, disse “lembranças denigrem minha mente”. Eu deitei a cabeça no volante, comecei a chorar igual criança. Chorei mesmo! Quem disse que homem não chora? Pois se homem não chora, eu sou o primeiro a quebrar o tabu.
I’m over futile odds, Amy! Choraminguei junto dela.
Ela se despediu de mim dizendo “E agora o lance final”; perguntei qual era; ela respondeu “O amor é um jogo de azar”. Fechei a whiskeira, fechei a garrafa de Absolut; guardei tudo no banco de trás do carro e peguei uma caixinha de água de coco. Era uma tentativa de amenizar minha visão; acho que de tanto forçar os olhos quando chorei, ela ficou um pouco embaçada.
A Amy foi embora; o trânsito começou a se dispersar; meu celular tocou. Ainda com a cabeça encostada no volante – estava muito pesada para eu levantar, veja só o que o choro faz – peguei o aparelho que estava no banco do passageiro. Atendi sem nem ver quem era.
— Ton?
— Anh? Quem está falando?
— Everton, onde você está?
— Parado no trânsito. Eu estava falando tão devagar que até eu me perdi.
— Você está bebendo? Aliás, você está bêbado!
— Não! Quem está falando?
Sua namorada, seu bobo.
— Eu te amo, meu anjinho! Por favor, volta para mim! Eu te amo demais, não me deixe!
Foi nessa parte que eu comecei a chorar e decidi que iria beber até cair se a resposta fosse “Não!”.
— Por que você está falando isso?
— Você não se lembra de que pediu um tempo?
Escutei uma risada longa e gostosa no fundo da ligação; a risada típica que a mulher da minha vida dava.
— Eu só falei que precisava de um tempo para ficar sozinha, que eu ia fazer compras e você não gostaria de vir comigo! Foi só isso!
Ops...
Eu acho que exagerei.
— Vem logo, estou te esperando!
— É...
— Tchau, bobalhão.
É, o amor é mais do que um jogo de azar: é um jogo de resistência para não enlouquecer. Mas de qualquer maneira, eu perdi o jogo; e aqui estou: louco e azarado de amor. E um pouco alterado pelos longos goles de whisky e vodca.
Que a polícia não me pare.
— E essa vai para quem ama música eletrônica! O locutor idiota fez uma piadinha idiota sobre o idiota do amor.
E aí começou a tocar uma música do Flo Rida, e ele dizia “Vá chamar as suas amigas, podemos todos ser amigos!”.
Bang, bang, bang, Nicki Minaj.

2 comentários:

Jenny R. disse...

Ameeiii D. Ta certíssima, o melhor para um coração quando está partido é uma garrafa de Whisky

D. Strabler Kowalski disse...

o melhor para qualquer momento é uma garrafa de whisky hahaha *-*