sábado, 30 de julho de 2011

Voltando Aos Contos de Amor


Estava no banheiro de seu apartamento; a pia com vários estojos de maquiagem; o secador ligado, e o rádio também. Uma toalha amarrada ao corpo; o rosto maquiado e o secador esvoaçando os cabelos.
Cantava alto a música que saia do aparelho de som; estava quase pronta para a festa que iria; além disso, estava sozinha em casa. Morava com uma amiga, e iria sair com os colegas de faculdade – praticamente uma rotina de todo fim de semana.
A campainha tocou, de imediato ela pensou “Mas quem é a flor de cacto que está essa hora aqui?”. Desligou o secador; caminhou até a sala, diminuiu radicalmente o volume do rádio e foi abrir a porta.
Antes, deu uma espiada no olho mágico; um rapaz que estava de costas.  A primeira coisa que notou foi as costas largas; ele vestia uma camiseta social lilás com listras roxas, calça branca e sapatênis em couro. Tinha o cabelo curto e castanho.
— Hm... Oi? Abriu a porta.
Ele virou, estava com uma caixa de pizza na mão. Tinha barba; usava uma corrente de prata no pescoço; um relógio branco no pulso esquerdo e brinco nas orelhas.
— Boa noite! Sorriu.
Ela abriu os lábios, um sorriso meio desconcertado.
— Ah sim, boa noite...
— Eu vim trazer a pizza...
— Pizza?
— O Rogerio pediu que eu trouxesse...
Rogerio era um dos amigos de faculdade dela.
— Ah! Ela despertou do encanto; desprendeu a correntinha dourada da porta e deixou-a abrir totalmente.
Ele fixou os olhos nos dela; ela riu.
— Você conhece ele?
— É meu amigo, também.
— Aham!
Ele esticou o braço com a caixa, ela pegou a pizza.
— Obrigada! Ela balançou a cabeça e abriu um sorriso deslumbrante.
— Ao seu dispor! Ele colocou a mão no bolso e devolveu o sorriso.
Ficaram ali sorrindo e balançando a cabeça como dois desvairados.
“E é só isso? Esse homem perfeito vem aqui na minha casa de bobeira, me olha desse jeito, mexe com minha mente e eu vou ficar aqui sorrindo como uma hiena?”.
— Então... É isso! Tchau! Ela riu e deu um passo para trás, fechou a porta. Foi até o centro da sala e colocou a caixa em cima da mesa de centro.
Ficou ali em pé, parada. A cabeça meio avoada, como se estivesse ainda sentindo os efeitos de uma droga sintética.
Caminhou passos de gato até a porta, e abriu-a sorrateiramente. Não viu ninguém.
“Parabéns! Como sempre, estragou mais uma oportunidade. Idiota!”.
Ficou olhando para frente, suspirando pesado; colocou a cabeça um pouco mais para fora e olhou para a esquerda; manteve-se assim por alguns segundos. Quando voltou-a para cima, assustou-se.
— Desculpa! Ele se assustou também e colocou a mão no braço dela.
Era sim o moço da pizza, do perfume entorpecente, do sorriso brilhante, dos olhos castanhos.
— Não, não, não foi nada!
Ela olhou para seu braço; sua respiração estava afobada, o coração acelerado. Olhou nos olhos dele.
— O meu susto foi grande, meu coração está muito acelerado... Ela fez uma cara de piedade extremamente convencível, ele se sentiu extremamente culpado.
— Me desculpe, foi sem querer, eu voltei porque...
Ela colocou o dedo indicador na boca dele, sinal para que ficasse em silêncio.
— Só vou te desculpar se eu me acalmar! Abaixou a cabeça. Levantou-a devagar e cerrou os olhos. – E só seu beijo vai fazer isso.
Ele abriu um sorriso de lado, respirou fundo. Ela deslizou as mãos até o pescoço dele; mordeu seu lábio inferior.
Alguns passos para trás e estavam dentro do apartamento; ela empurrou a porta e esta fechou.

Abriu os olhos; estava tudo escuro; a janela do quarto estava aberta, a brisa da noite abraçava o quarto. Ela olhou para o lado e viu o moço da pizza logo ali. Viu uma aliança em seus dedos; nos criados mudos que ficavam do lado esquerdo e direito da cama havia porta-retratos com fotos deles.
— Outro sonho com você... Sussurrou. – E felizmente, um sonho que se realizou.
Deitou a cabeça no peito forte e nu do namorado, acalentou-se nos braços fortes e tatuados dele.
— Eu te amo! Não saia da minha realidade, não saia dos meus sonhos...
Fechou os olhos.
— Nunca!
Ele respondeu.
Abraçou-a forte.

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