segunda-feira, 4 de abril de 2011

Desabafo Á Toa

 
Levantou, sentou-se na cama. Respirou fundo, caminhou até a frente do espelho.
– Olha, o negocio é o seguinte: desde a primeira vez que eu vi os teus olhos, perdi a direção da felicidade. Não minto, tenha certeza! Você e todo seu jeito de me tornar submissa, de me fazer sucumbir mas ao mesmo tempo não dar o braço a torcer, transformou-me em sólido, em frieza. E eu me pergunto, sinceras e contínuas vezes: se tens tanta audácia nos olhos, por que não é você que vem até mim? Por que tem que ser eu a pessoa que deveria ter tomado a atitude? Acho que gosta é de ver as pessoas implorando por e para você. Obtuso! Ordinário! Ladrão! Agora me diga... O que fez com a minha inocente felicidade? Diga-me, responda-me se for capaz! O que fez com as lembranças que tive de você? Garanto que nada! Garanto que fui apenas outra que encheu teu ego, que fez você lembrar que é bonito, e que se me ver outro ou qualquer dia em qualquer lugar não vai sequer lembrar que foi EU que tive seus olhos naquela noite. Agora me responda, você merece minha lembrança? Minha desnecessária procura por alguém parecido contigo? Não! Aliás, bem lembrado em merecer: você sequer ME merece! Minha vontade de ver você é tão imensa... Mas de te ver, e olhar bem nesses seus olhos magnetizantes e inúteis e dizer:
Ela parou. Olhou para o chão. Sentiu o sangue pegar fogo, o coração bater descompassado de tão rápido. Os olhos arderem e o nariz coçar. Mesmo não querendo, sua armadura de fúria desmontou:
– Me faça feliz.
Limpou os olhos, balançou a cabeça negativamente. Abriu a porta do quarto, seguiu para a rua – caminhando sem destino até algum lugar que chamasse sua atenção. Os olhos estavam pesados e ela não sabia se era por sono ou por desgosto.
Entrou em uma loja de conveniência. Comprou alguns doces e sucos. Ao encaminhar-se para o caixa, no pequeno intervalo de instante que olhou para seus pés para ver se seu cadarço estava desamarrado, trombou com alguém. Por ter o peito largo e, digamos, forte, suspeitou ser homem. Olhou para cima, com os olhos pegando fogo.
– Desculpa!
Era ele.
Ela respondeu com um sorriso sarcástico. Seguiu em frente. Chegou ao caixa, passou suas compras e pagou. Quando saiu da loja, sentiu puxarem seu braço. Fechou a mão para bater nesse alguém, mas foi uma ação não muito necessária.
– Posso te pedir uma coisa?
Ela assentiu com a cabeça:
– Vá em frente!
– Como é seu nome? Ela disse. Sinto que te conheço de algum lugar!
– Nossa... Vai ver que meu rosto é comum! Tenho que ir, tchau. Deu as costas.
– Espere! Puxou o braço dela novamente. Em seu interior, ela confessava que gostava disso. – Me passe seu telefone! Ela, com expressão de hesitação, passou. Se despediu sem muita educação, seguiu em frente.
Vinte minutos após ter chegado em casa, o telefone tocou.
– Alô?
– Queria te dizer que teu rosto não é comum. Beleza como a sua é difícil de esquecer. Eu me lembro de você, e juro: não te esqueci desde a primeira vez que te vi.
Ela riu. Pensou:
“Imbecil.
Eu ainda te amo.”

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