segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cocoon (parte 1)

O grande e velho relógio da estação tocava seis horas da tarde em ponto. Ela já estava exausta de toda sua vida vazia e queria mudar; renascer em outro lugar. Estava esperando o seu trem, que chegaria em cerca de  vinte minutos.
Levantou e caminhou até o bebedouro. Ao terminar de beber água, alguém puxou seu braço com força. Ela olhou para cima e avistou um belo rosto que há tempos a importunara.
-- O que quer agora? Ela perguntou, afastando a mão dele de seu braço.
-- Ainda pergunta! Devolva-me o que é meu, sua oportunista!
-- Não tenho nada seu. Nada! – respondeu de modo seco e saiu andando em direção a linha do trem. Já eram 18h09min.
Ele parou e ficou olhando ela ir. Analisou sua silhueta e deu uma leve mordida no lábio inferior. Seguiu o caminho até onde ela estava.
-- Bom dia senhorita! Colocou o chapéu.
-- Bom dia, rapaz.
-- Para onde vossa senhoria esta indo?
-- Para o leste. E o senhor?
-- Aonde você for.
Ela ficou em silencio e olhou para baixo. Analisava o chão e pensava quantas pessoas já não estiveram por ali. Enquanto isso, ele olhava para o rosto da rapariga.
-- Porque as coisas terminaram deste jeito?
-- Elas nem começaram. Respondeu, ainda cabisbaixa.
-- Certo. Vai me dizer que foi apenas uma noite e que não significou nada.
Ela não respondeu. Pensou que o silencio talvez calasse os disparates feitos por ele.
-- Vai ou não?
-- Não. Significou sim alguma coisa, mas não é por isso que vou deixar isso martelando em minha mente.
O trem chegou. Havia poucas pessoas a sua espera. Subiam famílias, jovens, mulheres, homens, crianças e idosos. Todos em busca da felicidade, ou então tentando mantê-la perto de si.
Ela voltou correndo pegar sua mala, que estava perto dos bancos onde estava sentada, e depois entrou no trem. Entrou com o pé direito, respirando fundo, em busca da sua felicidade. Ele entrou atrás dela.
-- Me espere. Vou ser sua sombra, onde estiver estarei atrás!
Ela fingiu que não ouvia. O que havia feito para ter um peso desses nas costas? Porque não entrava na cabeça desse jovem rapaz que ela não era a pessoa certa pra ele?
Sentaram-se no mesmo banco. Ela, do lado da janela; assim podia ver as paisagens, ao invés daquele encosto ao seu lado.
-- Agora vai ter que me ouvir! Não tem escapatória.
-- Pode falar. Vou escutar, não há outra maneira de me livrar de você.
-- Porque sumistes? Me deixou na mão depois daquela noite, me deixou a sua procura. Eu larguei tudo por você sabia? Ontem eu terminei meu noivado e disse que precisava acertar minha vida. E você sabe o que era acertar minha vida? – ele olhou para ela, ela negou com a cabeça – era ter você! Era, no mínimo, encontrar-lhe. Apenas me diga, por favor, suplico-lhe para que diga o que aconteceu. Parecia tão envolvida naquele dia.
-- Acontece que éramos comprometidos. Agimos de má fé. Muito me arrependo disso. Meu relacionamento terminou anteontem, estou indo embora para reconstruir minha vida. Agora me formarei e reencontrarei alguém que realmente me faça feliz.
-- Você não respondeu o que perguntei!
-- Eu te disse, naquela mesma noite, tudo o que você significava pra mim e tudo o que aquilo significou. Você já trocou de namoradas mais do que trocastes de roupa, o que isso me ajudaria a continuar a amar você? Você traiu sua noiva, o que isso significa? Que eu e você somos desavergonhados. Você não é para casar. E o que eu mais quero é isso, passar o resto da minha vida ao lado de uma pessoa que me ame, e que eu ame igualmente.
-- Com você vou ser diferente, eu prometo. Nunca amei tanto alguém assim, como estou te amando. Não consegui tirar-lhe da minha cabeça desde aquele dia.
-- Com licença. Ela levantou e caminhou até o banheiro. Ele levantou atrás, e quando ela ia fechar a porta, ele entrou.
-- O que faz aqui? Saia daqui imediatamente! Ele prendeu os braços dela na parede, de forma que conseguisse olhar no fundo de seus olhos e ela não pudesse reagir.
-- Só saio daqui se você repetir o que me disse naquele dia, bem aqui, no pé do meu ouvido! – ele fez sinal para que ela dissesse aquilo no pé do ouvido dele.
-- Essa noite foi a melhor da minha vida. Você conseguiu me fazer sentir especial, me trouxe sentimentos que nunca havia sentido antes. Me mostrou o que é ser amada, me mostrou o que é amar. Se um dia eu não te procurar, é por não ter condições de olhar nos seus olhos e resistir a te ter. – ela proclamou a frase inteira olhando pra baixo, e ao terminar, olhou para ele – Pronto?
-- Ainda não. Falta isso!
Ela fechou os olhos. Não queria ver nada do que iria acontecer. Ela sentiu as mãos dele descerem das suas mãos até seu pescoço. Ele cheirou seus cabelos, seu pescoço, a gola de seu vestido e sussurrou “Era tudo o que eu precisava sentir agora”. Por um momento ela aguardou um beijo, igual ao que eles tinham dado aquele dia. Lembrou do gosto dos lábios dele, lembrou de como era a sensação de liberdade estar acolhida naqueles braços fortes. Mas ele não a beijou, soltou as mãos dela e saiu discretamente do banheiro.
Ela sentou no vaso sanitário e colocou a cabeça entre os braços. Ficou desapontada, lágrimas involuntárias rolaram de seus olhos. Levantou, molhou o rosto e saiu, tentando não demonstrar a solidão que havia sentido naquele momento.

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