domingo, 12 de dezembro de 2010

Você Se Lembra?


A lua estava no alto do céu. Estava em sua fase minguante. Tinha a companhia de suas amigas estrelas, que estavam tão brilhantes quanto a luz do sol. Juntas, em harmonia e puro flamejar, brilhavam e transpareciam o amor de um casal que estavam a caminhar juntos no parque, em meio as arvores e as flores que naquela noite de primavera tinha o frescor da brisa envolvente.
– Você se lembra da primeira vez que nos vimos? Ela perguntou.
– Como se fosse hoje, a poucos minutos, que aquilo aconteceu. Seus olhos me cativaram no primeiro instante. Aquela fogueira, as ondas, o violão, a musica, você... Tudo estava perfeito aquela noite.
Ela riu e ficou vermelha. Ele acariciou seu rosto, com a mesma delicadeza e carinho que fez isso na primeira vez que se beijaram.
– Você lembra daquele setembro? Ele perguntou, ainda acariciando-a.
– Aquele setembro em que me pediu em namoro? Ah sim, lembro toda vez que olho para minha aliança. Você fez suspense, disse que queria dizer uma coisa séria e que talvez me deixasse muito triste. Já fui com o coração na mão... Quando me mostrou a aliança... Nossa! Meu coração nunca havia batido tão descompassado daquela forma!
Ele riu, pegou na mão dela, sentiu a textura de sua mão tão macia e delicada.
– Lembra-se de quando te pedi em noivado?
Ela olhou para o chão. Deu um riso leve, mas cheio de ternura.
– Eu nunca chorei tanto, de felicidade. Você soube, desde sempre como me deixar nervosa e mesmo assim calma. Lembra do nosso casamento? Foi tudo tão perfeito... Sua idéia de relembrar o primeiro encontro surpreendeu não só a mim, mas a todos os convidados.
Ele beijou seu rosto. Passou a mão em seu cabelo, sentiu tão macio que eram seus cachos.
– Quando você engravidou, de nosso primeiro filho... Eu não sabia o que fazer de tanta felicidade. Tinha orgulho de olhar para você e falar para todos: essa é minha mulher, minha vida, minha esposa, meu orgulho, e ela esta gerando um pedaço de mim dentro dela.
Os olhos dela encheram de lagrimas. Ela olhou para lua, apontou para uma estrela.
– Lembra quando eu te dei a noticia do nosso segundo filho? Estávamos em baixo de uma árvore deitados, com nosso primeiro filho no colo, olhando as estrelas. Eu me sentia tão feliz quando você acariciava minha barriga, dizia que eu só te trazia felicidades...
Ele ficou observando as estrelas. Pegou na mão dela outra vez, sem desviar o olhar do céu.
– E quando nossa filhinha nasceu? Nossos garotos ficaram tão felizes, cuidaram dela e até hoje cuidam como se fosse uma bonequinha...
Eles ficaram ali. Em um silencio confortador, com as estrelas dançando sobre suas cabeças e a lua cantando suas musicas felizes sobre o amor.
– Quando fizemos cinqüenta anos de casado... Foi uma alegria tão grande reunir nossos filhos, netos, bisnetos... Ver toda nossa família reunida, feliz, cheia de amor e paz. Ver o que construímos durante todos aqueles anos e ter a certeza que fizemos a coisa certa.
– Você consegue se lembrar de quando nos conhecemos, que você ficou louca ao saber que eu era cinéfilo?
– E que você demorou pra me dizer as três palavras mágicas? Só foi me dizer na primeira vez que fomos a um cinema.
– Você sabe que eu tinha medo de sua reação...
Eles riram. Riram e começaram a dançar, ao som da lua e acompanhando o passo das estrelas.
– Com quantos anos estamos agora? Não me lembro... Ela riu.
– Com oitenta e... cinco?
– Acho que sete.
– Nos conhecemos na década de 40, não?
– Nos casamos em 43... Tivemos nosso primeiro filho em 44, o segundo no começo de 46, a nossa boneca em 50.
Dançavam cada vez mais animados. As estrelas desceram até a Terra e começaram a dançar junto deles. A lua com sua grandeza, não podia descer junto deles. Chamou-os para junto de si, ali podiam dançar e cantar para toda eternidade.
– Sessenta e sete anos juntos. Você acha pouco?
As estrelas começaram a levá-los para o céu. Iam a caminho de lá dançando, todos juntos, se divertindo, com um belo sorriso no rosto.
– É sim, muito pouco para todo o tempo que vamos ter a partir de agora. Aqui, nesse parque, passamos o ultimo momento de nossa vida juntos.
– E agora iremos ficar para sempre juntos. A eternidade esta nos chamando para não deixa-la na solidão. Vamos cantar e dançar, nos amar e viver, mas agora no céu.
– Na eternidade.
E assim que chegaram ao céu, a lua cantou mais forte e com mais entusiasmo. Agora todos estavam felizes e num eterno descanso. “Quando enfim a vida terminar/ E dos sonhos nada mais restar/ Num milagre supremo/ Deus fará no céu te encontrar”.

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