quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amor Passado

Estavam frente a frente, outra vez. Ela não cabia em si de tanta felicidade, e ao mesmo tempo de tanta tristeza. Ele se sentia bem, de uma maneira que não conseguia explicar. Estavam em baixo da arvore que há um ano atrás ela tinha planejado em seus sonhos encontra-lo. No salão, do outro lado da rua, a musica deles tocava. Ela tinha elegido essa como a musica deles, mas de nada ele sabia. Ele não sabia o quanto foi importante na vida dela, não sabia o quanto ela o amou e o quanto ela sofreu com a distancia. A única coisa que sabia é que ela era linda e que já a conhecia.
Os dois se olhavam de um jeito tão acolhedor, que palavras e toques não eram necessários para dizerem o que sentiam naquele momento. Era a hora da verdade, a hora que ela esperou por um ano ininterrupto, com tanto ardor e com tantas lagrimas.
– Seus olhos são tão lindos! Estar presente outra vez neles era tudo o que eu queria... Há seis meses atrás.
– Porque há seis meses? Ele perguntou e pegou em sua mão.
– Há seis meses atrás eu ainda gostava de você. Mas como não queria mais ficar com esse amor silencioso e platônico, resolvi fazer de tudo para te esquecer.
– Você gostava de mim mesmo?
– Eu te amava... mas a vida me ensinou que você era só um sonho, só mais um sonho. E que esse sonho não iria se realizar.
– Nós não podemos ficar agora né...
– Não. Nem agora, e talvez nunca.
– Porque? Ele se aproximou dela. Ficaram a poucos centímetros de distancia.
– Eu tenho namorado. Ele me ama mais que tudo.
– Ele te ama. Mas e você? Ele se aproximou mais ainda, ficando com os lábios ao pé de seu ouvido.
– Eu... – ela pensou. Ela tinha em sua frente o homem que durante meses acreditou ser o grande amor de sua vida. Podia trair seu atual amor, e perde-lo para sempre, ou então podia deixar que as águas antigas continuassem em seus rios antigos – eu amo ele. Amo ele sim, amo muito. Ele me faz feliz – o coração dela não bateu forte quando disse essas palavras. “O que esta acontecendo comigo? Não posso fazer isso!”, ela se perguntava.
– Eu também tenho uma namorada. Mas eles não precisam saber o que nós vamos fazer daqui por diante – ele afastou o cabelo dela do pescoço, e começou a beijá-lo. Abraçou a com força.
– Eu não quero nada, eu gostei tanto de você e não tive a capacidade de te dizer isso – ele continuava a beijar seu pescoço. Ela não estava se sentindo bem. Ele acariciava todo seu corpo, como se já quisesse fazer isso a tempos.
– Então, todo esse tempo que você me quis... vamos desconta-lo agora!
Ele a encurralou na parede. Começou a beijar seus lábios; um beijo fervoroso que trazia o gosto de um sonho antigo realizado e de um sonho atual destruído. Ela não se mexia, estava intacta; enquanto ele matava a vontade oculta de tê-la. Ele então começou a levantar sua blusa, passar a mão por dentro dela. Ela empurrava-o, mas de nada adiantava. Ele tinha fortes músculos, e cada vez que ela tentava se afastar, mas forte ele a beijava e as caricias tornavam-se mais intensas e agressivas.
– Eu não sabia que você era assim – ela disse ofegante. Estava começando a ficar assustada –. Pare, por favor. Não vamos fazer coisas que depois nós iremos nos arrepender.
Ele não parava. Parecia não ouvir o que ela dizia. Ela estava começando a ficar aturdida. Ele continuava a apertá-la, cada vez com mais entusiasmo e intensidade. Ela sentia seu coração bater mais forte e sua visão escurecer. De repente, ela deitou a cabeça em seu ombro e fechou os olhos. A última coisa que sentiu foi algo embrenhar-se em seu corpo. Não sabia o que era, e agora não havia mais importância. Estava desacordada, mas ele não sabia. Aproveitou-se da situação. A musica parecia estar mais alta, a lua maior, e as estrelas mais brilhantes. Sua visão embaçou. Suas pernas estremeceram. Abraçou-a com mais força.
E como um relâmpago, ela abriu os olhos. Ele sussurrou em seu ouvido três palavras. Três palavras que era o que ela mais queria ouvir há meses atrás, mas que agora não significavam as mesmas coisas. Como ele podia dizer isso a ela, sendo que era a segunda vez que se viam em um ano e oito meses? Ela não conseguia se deixar acreditar que ele sentia o mesmo por ela. Que ele sentiu a mesma angustia, a mesma solidão que ela sentiu. Mas era tarde. Tarde demais para eles tentarem ser feliz um ao lado do outro. Ela já não o amava, e percebeu que o grande homem de sua vida era seu namorado. Ele não faria o que ele fez, naqueles momentos.
Ele continuou abraçado a ela, encostados na parede. Ouviram o barulho de um carro dando a partida e cantando os pneus. Ouviram gritos de pessoas que estavam correndo. De repente, escutaram alguém dizer “Fujam, assalto!”. Fortes estampidos foram ouvidos. As pessoas que estavam no salão saíram para ver. Havia dois jovens caídos na calçada, abraçados um ao outro. Unidos, novamente. E agora, por toda eternidade.

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