quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Asas

Estavam sentados em baixo do luar. Ela fez questão de colocar a mesa de jantar no quintal, todo gramado e com arvores por toda volta. Essa era a beleza encantadora da casa de campo, poder sentir a natureza mais perto de ti.
Sentados frente a frente, conversavam sobre a vida e todos que nela estavam. A comida a frente deles não fazia diferença, alias, não tinha a menor importância.
– Eu não sei o que estamos fazendo aqui. Ele disse, perdendo toda a elegância que mantivera até o momento. Era esse o medo dela, ele perder o romantismo quando as coisas estavam fluindo bem. Era o que ele sempre fazia.
– Estávamos tendo bons momentos, perto da natureza, do céu estrelado... ela deu um sorriso, querendo que com ele afastasse as crises de deselegância do companheiro.
– Eu não quero ficar aqui. Esse cheiro, essas arvores, essa comida, essas frescuras... nada me agrada. Ia se levantando da cadeira quando ela segurou sua mão.
– Pouco importa o nosso redor. Eu estou aqui, você esta aqui. É isso que importa e é o que teria de importar.
Ele tirou a mão dela da sua, afastou a cadeira e deitou no chão. Com as mãos atrás da cabeça, ficou olhando para o céu. Fazia expressões de quem estava tentando entender ou procurar a magia que toda aquela noite tentava representar.
Ela se levantou, sentou no colo dele.
– Você não consegue ver a beleza da natureza? Como você não consegue se sentir revigorado com essa lua maravilhosa que esta logo ali acima?
– Eu não consigo me sentir revigorado nem com você no meu colo – ele olhou para ela, que estava com expressão de indignação, e riu –. Estou brincando. Desde pequeno não fui ensinado a gostar de natureza.
Ela se deitou ao lado dele. Começou a olhar as estrelas e pedir para que a ajudasse.
– Meu sonho era jantar desse jeito, e com você. Mas você conseguiu acabar com ele quando estava se tornando concreto.
– Desculpa, mas esse não é meu estilo.
Uma lagrima de desgosto rolou do olho da garota.
– Hoje a gente completa dois anos de namoro. Queria que essa noite fosse meu presente.
– Tenho um presente melhor para ti. Mas já disse, só vou entregá-lo quando a noite terminar.
Ela rolou até o peito dele. Sentia seu cheiro entorpecente. Passava a mão em seus cabelos, seu rosto, sentia o quão lindo e precioso ele era.
– Eu tenho outro presente pra nós. Sussurrou em seu ouvido.
Ele se virou. Ficaram frente a frente.
– Ter você, ter essa natureza entediante ao meu redor... já é um presente.
Os dois riram. Acariciaram a face um do outro. Deram um quente e longo beijo. Seus corações começaram a bater mais rápido. O sangue se tornou chamas, que corriam rapidamente por suas veias. As coisas começaram a acontecer naturalmente. Com os olhos fechados, os toques, os beijos, as sensações, se tornaram mais intensas. Sentiram-se na plenitude do céu. Ganharam asas, percorreram o corpo e o interior de cada um com todo o amor que tinham guardado nesses dois anos. Chegaram às estrelas, foram apresentados para a lua e para o sol. E em um instante, perderam suas asas. Mas ganharam um fulgor especial e novo. Quando abriram os olhos, não acreditaram no que viram. Estavam ali, um em frente ao outro, Adão e Eva, unidos em um só.
Ele mexeu no bolso da calça que estava logo ao lado. Pegou uma caixinha de veludo preta. Ela estava de olhos fechados e a cabeça encostada em seu peito. Ele roçou o veludo em sua orelha. Ela olhou para cima.
– “Cê parece um anjo, só que não tem asas. Oh meu Deus quando asas tiver, passe lá em casa” – ele cantarolou em seu ouvido. Ela olhava para a caixa, que nas mãos dele permanecia, com o olhar tão brilhante quanto um farol – “e ao sair, pras estrelas eu vou te levar. Com ajuda da brisa e do mar, te mostrar onde ir.”
Entregou a caixinha para ela. Cautelosamente ela tirou o laço vermelho que a envolvia.
– “E ao chegar, apresento-lhe a lua e o sol, e no céu vai ter mais um farol...” – ela abriu a caixa. Dentro dela havia duas alianças douradas, com uma pedra que se assemelhava com um diamante. Na tampa interna da caixa, havia um papel escrito “Casa comigo?” – “... que é a luz do teu olhar”.
Ela o abraçou. Gritou a palavra “sim” diversas vezes. A felicidade transbordava de seu coração em forma de lagrimas. Ele sentiu o amor dessas lagrimas, e compartilhou as dele também.
– Eu te amo tanto! Ela gritou.
– Desculpa pelos meus chiliques de antes. Eu estava tentando te colocar para baixo e te surpreender, com esse pedido.
Abraçaram-se. A mesma cena de antes se repetiu: beijaram-se, dessa vez ternamente; ganharam suas asas e percorreram todo corpo um do outro. Dois corpos, dois corações. Tornando-se um só. De uma vez por todas, para todo o sempre.

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