segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Apenas Diga Não


Estavam deitados um ao lado do outro na cama. Ele estava dormindo, ela não conseguia pregar os olhos. Há uma semana não se falavam; comunicavam-se apenas por monossílabas ou olhares. Ela tentava achar a razão para isso, mas fechava os olhos para o real motivo dessa frieza. Já fazia tempo que uma mulher ligava para ele e logo após o fim da ligação ele saia (de madrugada, todas as vezes). Sempre dizia que era trabalho, trabalho, trabalho.
Em um dia ela atendeu o telefonema e ouviu o que causou a pior dor da vida dela. Ele saiu do banho e a viu atendendo seu celular; correu até ela e desligou-o. Perguntou o porquê de ela ter atendido, se ela não tinha mais o que fazer. Depois desse momento, não conversaram mais.
Ele acordou e foi ao banheiro. Quando ela ouviu a descarga, levantou e foi até o mesmo lugar onde ele estava.
– Preciso te perguntar uma coisa... Ela disse, encostando-se à porta.
– Fala. Ele disse, nem sequer olhando para ela.
– Você tem um caso com outra mulher?
– Dá licença! Ele foi saindo do banheiro e a empurrou.
– Por favor, me diga! Eu juro que saio daquela porta e te deixo em paz, para sempre. Ela segurou seu braço. Um braço forte, que suas minúsculas e delicadas mãos não conseguiam agarrar completamente.
– Tenho sim, porque?
– Você ainda me pergunta o porque! Ela não conseguiu se controlar. As lagrimas rolavam de seus olhos sem a mínima cautela.
– Você não faz nada para mim, nada, do que ela faz! Ele estava inquieto. Abria e fechava as portas do guarda roupa e as gavetas da cômoda, andava de um lado para o outro.
Ela sentiu seu chão desabar. Ajoelhou-se no chão. A cabeça estava mais pesada que uma barra de ferro.
– Não... Apenas não! Apenas me diga não... E ela se desmanchava em lágrimas.
Ele se sentou na cama. Colocou as mãos na cabeça, como se estivesse perguntando a si mesmo o que tinha feito.
– Eu dei minha vida para você, minha vida... Como consegue ter a audácia de dizer que não faço nada por você!
Ele levantou e se ajoelhou á frente dela.
– Olha... Ela é apenas diversão... Eu só estava um pouco cansado da rotina e quis mudar. Mas eu percebi que ela começou a se apaixonar por mim e que eu era apaixonado realmente por você...
– Isso não explica nada! Isso não vai mudar o que eu estou sentindo agora! Ela levantou. Cambaleou até o banheiro. Ao chegar à porta, ele a puxou pelo braço.
– Me desculpa... Eu te prometo não fazer mais isso!
Ela empurrou-o. Entrou no banheiro e trancou a porta. Encheu a banheira com água gelada, tirou as roupas e adentrou-a. Jogou todos os sais e o sabão adentro e ficou ali. Lá fora, ele batia na porta e fazia juras desnecessárias e mentirosas.
Fechou os olhos e afundou a cabeça. Ficou deitada no fundo da banheira e mesmo assim ouvia a voz grossa do namorado. De repente, um estrondo.
– O que você esta fazendo, sua louca! Ele puxou-a pelos cabelos.
– Não interessa! Nada mais da minha vida te interessa. E pegue esta aliança, dê para aquela! Ela tirou a aliança prateada e jogou no rosto dele.
– Eu já disse que eu terminei com a outra ontem... Eu já cansei de dizer que eu escolhi você!
– E porque não falou comigo ontem, e nem hoje?
– Eu... – Ele, na verdade, só estava enganando-a. Sabia que a amava, mas nunca disse isso. Só uma única vez, quando quis ter a primeira noite. Fez um teatro digno da Broadway, dizendo para ela que se o amasse de verdade faria tudo o que “o amor” deles tinha direito.
 Ele não queria perder a amante, a que lhe cedia orgias incomensuráveis. Mas não queria perder a namorada, a que lhe ensinou o verdadeiro e mais puro sentido do amor.
Por um segundo um filme de toda a relação deles passou em sua cabeça. O primeiro beijo, quando a pediu em namoro, quando foram morar juntos, as confissões, os momentos de ternura e paixão. Logo após, um filme sobre a amante passou também em sua mente. Só conseguia ver um mar de pecado, de desejo carnal e nada de amor. Ele não conseguia levar nada do relacionamento extraconjugal.
Olhou para a namorada e viu como estava destruída. Saiu correndo, subiu as escadas e foi para o teto do prédio. A brisa estava agradável, mas o céu não estava bonito. Poucas estrelas, a lua com pouco brilho.
Foi andando até a beirada. Olhou para baixo e viu vários carros indo e vindo. Viu as luzes das lojas e as pessoas andando para lá e para cá. Sentiu-se o pior dos homens na face da Terra. Tinha caído na real, ela era a mulher de sua vida... E como conseguiu machuca-la?
Subiu o pequeno degrauzinho da beirada do teto. Abriu os braços. Fechou os olhos.
– Não pule... Por favor! Eu te perdôo. Eu juro que te perdôo, mas, por favor, não pule.
Ele olhou para trás. Era a sua mulher, aquele a qual ele amava. Abriu um largo sorriso.
– Eu te amo... me perdoe! Você é a mulher da minha vida!
– Eu também te amo! Ela foi caminhando até ele. Ambos desmancharam-se em lagrimas.
Quando chegou até ele, deu um abraço fulgurante; cheio de ternura e amor. Ficaram ali, grudados um ao outro. Nenhuma palavra podia ser dita, quebraria todo o encantamento – até mesmo a combinação mais bela de palavras do mundo.
Por um tolo descuido, ele tropeçou no cano que havia depois do degrau do teto. Aquilo o fez cair do abismo do prédio. Automaticamente, ela caiu junto dele, estavam abraçados no momento do tropeço.
– Você pode se salvar... Tente pegar nas grades de alguma dessas sacadas! Mas por favor, não morra comigo! Ele disse, com lagrimas saltando de seus olhos desesperadamente.
– Não! Eu não terei vida sem você!
Foram 80 metros a baixo. E um amor trapaceiro, rude, formoso e intenso, ao fim. Não tinham do que se preocupar, teriam toda uma eternidade para se amarem. O amor que o fizeram tão mal por diversas estações, fez renascer no ultimo momento a importância de que cada um tinha na vida do outro. E não importava o obstáculo que aparecesse, quando duas pessoas são destinadas a serem um... Não há nada que as separe.

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