terça-feira, 21 de junho de 2011

Neuilly (01/02)


Uma rua não muito movimentada; cumprida e que levava diretamente para o centro da cidade; não era larga, repleta de prédios antigos e de seis andares; as paredes dos mesmos todas beges, com as grades das sacadas de um cinza escuro um pouco azulado; usualmente com carros típicos do país estacionados em frente aos barzinhos que haviam nessa rua.
O prédio de número 47 era mais um dos vários prédios beges; mantinha estrutura antiga, aparente do século passado; a porta de entrada pouco larga, de madeira, envernizada e muito brilhante; o interior organizado e moderno, apesar do exterior anoso; as escadas eram de madeira escura, mas havia um elevador para facilitar a vida dos desprovidos no andar.
No último andar, no décimo sexto apartamento, havia vista para o monumento principal da cidade; obtinha iluminação perfeita do Sol nos fins de tarde, nas alvoradas, nos ocasos; tinha um quarto, uma sala, um banheiro e uma cozinha, todos com proporções até que expansivas para um apartamento daquela região semi-central da cidade. Nele moravam duas garotas, duas estudantes; chegaram para fazer curso, mas decidiram prolongar sua estadia; entre elas haviam algumas liberdades além de amizade, mas nada significativo – só em momentos bêbedos.
A morena, chamada Diana e apelidada de D, estava a caminho do apartamento 1, situado no térreo, onde normalmente ocorriam as palestras do curso. Várias cadeiras distribuídas na única sala do ap.; um quadro branco para as anotações imprecisas do palestrante; o chão de madeira desgastada, mostrando implicitamente a idade do hotel ou apenas um charme vintage do construtor; as paredes claras como as paredes-padrão do prédio. O evento estava marcado para ás quatorze horas, o relógio marcava esse horário; as cadeiras vazias foram quase ocupadas, sobrando apenas uma que era o lugar onde D sentou.
Sentou disfarçadamente, querendo encobrir o atraso; o rapaz sentado ao seu lado ficou a fitar seu rosto, até ela olhá-lo e cumprimentá-lo.
— Boa tarde! Ele sussurrou e balançou a cabeça.
— Boa tarde! Respondeu com sorriso.
Ele era forte, tinha ombros largos e braços grossos; os olhos pequenos e castanhos; os lábios finos; o cabelo castanho, bagunçado e arrumado em um topete, com entradas pequenas; tinha cavanhaque e bigode; vestia uma camiseta pólo verde escuro com suspensório listrado marrom/branco; calça de sarja marrom escuro; tênis casual.
Tornou-se difícil prestar atenção no que o palestrante dizia enquanto tinha ao seu lado um homem que à seus olhos era perfeito – e vale ressaltar que para ela avaliar como perfeito qualquer humano de sexo masculino era uma coisa difícil a nível raro. Ele olhava para ela, olhava para as mãos dela que estavam pousadas nas pernas cruzadas, olhava para frente, passava as mãos nos braços. Ela concluiu que isso era um tique (passar as mãos nos braços). Todo momento ele fazia esse movimento; passava as mãos nos braços, no cabelo, na cabeça, nos braços novamente, parecia totalmente inquieto ou insano.
— Mora onde? Ele sussurrou, tombando a cabeça para o lado esquerdo.
— No 16 – olhou para ele de lado, deparou-se com ele á olhando de lado também – e você? Levantou a sobrancelha.
— Moro no 14! Um andar embaixo, não é?
— Sim!
Riram.
Ele repetiu o tique, ela passou a língua nos lábios. Talvez esse seja o tique particular dela, também. Ele também ficava colocando a língua para fora, passando-a rapidamente na boca, ou então fazendo um barulho gostoso de estalo quando a colocava para dentro da boca.
Uma hora e meia de falação nunca é demais com alguém ao lado. A palestra, infelizmente chegou ao fim, mas os dois não. O palestrante anunciou o final, bateram palmas, levantaram, se olharam, sorriram.
— Você tem algum compromisso depois desse? Ele perguntou.
— Não, e você?
— Tenho se você aceitar! Riu e repetiu o tique.
— Dependendo do convite! Levantou a sobrancelha.
Como nós, humanos, somos cheios de manias!
— Poderíamos ir naquele barzinho na esquina...
— Ah sim, vou lá bastante. Eles têm um croissant... Meu Deus!
Riram.
Então vamos?
Vamos sim!
Seguiram para fora do prédio.

Nenhum comentário: